O Modo de Produção Biológico

 O modo de produção biológico (MPB) ou agricultura biológica (AB) é um sistema de práticas de produção agrícola que favorecem a fertilidade do solo, respeitam os ciclos naturais e o equilíbrio do meio ambiente, sem consequências negativas para as pessoas, aproximando a actividade agrícola de um mecanismo natural de produção de alimentos.

Os benefícios do MPB

Em geral, os benefícios traduzem-se na produção de plantas e frutos mais saudáveis, na preservação do solo e no aumento da sua fertilidade, na protecção da  biodiversidade e do meio ambiente. Em relação a cada um de nós, o MPB é a forma de praticar a agricultura que mais defende a nossa saúde, permitindo-nos consumir plantas e frutos livres de contaminações perigosas.

As sementes e as plantas admissíveis no MPB

No modo de produção biológico certificado, conforme praticado na Quinta, nem todas as sementes e plantas podem ser utilizadas, apenas aquelas que se encontram classificadas e com origem conhecida, sabendo-se que foram criadas sem a utilização de produtos proibidos na AB (fertilizantes e pesticidas sintéticos, por exemplo) e que não são resultado de alterações genéticas artificiais. Apesar disso, o catálogo de variedades disponíveis na Quinta é grande e de qualidade e inclui todas as sementes e plantas mais populares em cada época.

A rotação de culturas

A rotação de culturas é uma prática agrícola antiga fundamental no MPB, indicada para ajudar a prevenir e a combater doenças ou pragas na horta, controlar as infestantes e manter a fertilidade e conservar uma boa estrutura do solo, traduzindo-se em evitar a repetição anual do cultivo de plantas da mesma família ou de características semelhantes (tipo de raiz; exigências nutritivas; género de vegetação) nos mesmos lugares da horta.

rotacao-culturas

AS FAMÍLIAS DE PLANTAS HORTÍCOLAS MAIS COMUNS

 

Família Exemplos
BRÁSSICAS
(Cruciferae)
Couve-de-bruxelasCouve-repolhoBróculosCalabresa,Couve-flor

Rabanete

Rábano

Nabo

LEGUMINOSAS
(Leguminosae)
ErvilhaFeijãoFava
FAMÍLIA DA BATATA
(Solanaceae)
BatataTomateBeringelaPimento
UMBELÍFERAS
(Umbelliferae)
CenouraPastinacaSalsaAipoFuncho
FAMÍLIA DAS MARGARIDAS
(Compositae)
AlfaceChicóriaEndíviasEscorcioneiraAlcachofra
FAMÍLIA DA CEBOLA
(Alliacae)
CebolaChalotasAlhoAlho-francêsAlho-porro
FAMÍLIA DAS BETERRABAS
(Chenopodiaceae)
BeterrabaEspinafreAcelga
CUCÚRBITAS
(Cucurbitaceae)
PepinoCourgetteAbóbora ovalAbóbora-porqueiraAbóbora-menina

Melão

Melancia

Os precedentes

E no âmbito da prática da rotação de culturas há certas plantas que beneficiam da precedência de outras no mesmo lugar de cultivo, principalmente porque estas deixaram no solo determinados elementos nutrientes adequados a ser aproveitados pela cultura seguinte, conforme se passa com as ervilhas e o feijão, que enriquecem o solo com o azoto aproveitado pela cultura seguinte. Por outro lado, há plantas que podem prejudicar a cultura que lhes sucede. O quadro seguinte identifica alguns dos precedentes a ter em conta para uma horta mais saudável e produtiva.

Família Bom Precedente Mau Precedente
BRÁSSICAS alhos, cebolas, espinafre abóboras, aipo, cenouras, melão,feijões, pepino, tomates e as Brássicas
LEGUMINOSAS alhos, cebolas Leguminosas
FAMÍLIA DA BATATA alhos, cebolas Família da batata, melão, pepino, abóboras
UMBELÍFERAS alhos, cebolas, milho Aipo, beterraba, cenoura
FAMÍLIA DAS MARGARIDAS alhos, cebolas, batata alface, beterraba, couves, nabos, rabanetes
FAMÍLIA DA CEBOLA Cucúrbitas, Brássicas, Leguminosas Família da cebola, milho, beterraba
CUCÚRBITAS alhos, cebolas Cucúrbitas

 

As consociações

O cultivo simultâneo e próximo de determinadas plantas pode favorecer o crescimento mútuo e a produção, conforme é o caso do feijão com o milho, por exemplo, e da cebola com a alface. Mas também há vizinhanças a evitar. Por outro lado, a presença de determinadas plantas na horta ou em espaços próximos (nas bordaduras da área cultivada, por exemplo) pode ser benéfica para as culturas e favorecida de modo tão simples quanto plantar uns pés de alecrim (para atrair insectos polinizadores) ou de hortelã-pimenta (que ajuda a afastar da horta a lagarta-da-couve).

Mapa-consociacoes

Os ciclos naturais

Na agricultura biológica interessa harmonizar as culturas com a época e o local próprio para as respectivas sementeiras ou plantações, porque só assim poderemos evitar a utilização de soluções artificiais, dispendiosas e muitas vezes nocivas para o ambiente com vista a obter produções minimamente compensadoras.  Por isso, antes de tomarmos decisões sobre o que vamos semear ou plantar, há que ter em conta as indicações do calendário agrícola.

Calendario

A fertilidade do solo em MPB

Ao contrário da agricultura convencional, que empobrece o solo ao ponto de este se transformar em mero suporte físico da planta, a prática da agricultura em MPB conserva a respectiva estrutura e composição e aumenta a vida microbiana e a fertilidade, principalmente com o retorno ao solo dos nutrientes necessários ao crescimento e pleno desenvolvimento das plantas (como o azoto, o fósforo e o potássio), e melhora as características físicas do solo (por exemplo: deixando-o solto e aumentando a sua capacidade de retenção de água), benefícios que se conseguem através da incorporação de matéria orgânica, em regra por deposição sobre a primeira camada de terra, mas também adoptando a rotação de culturas e a não-mobilização do solo.

A compostagem

A compostagem é uma das soluções de fertilização mais adequadas e populares no MPB, consistindo no aproveitamento de resíduos vegetais, das hortas (plantas e folhas verdes ou ervas daninhas, por exemplo) ou das nossas casas (restos vegetais e borra de café, por exemplo), e estrumes, combinados com materiais ricos em carbono (v. g., palha, folhas secas e restos de podas) em determinadas condições de humidade e arejamento, introduzindo-se no solo o resultado dessa mistura orgânica após decomposição (o composto). Pratica-se a compostagem na Quinta.

Os tratamentos das plantas em MPB

Apesar dos cuidados tomados, como o sistema de rotação de culturas e as consociações, é possível que surjam na horta doenças das plantas, como o míldio (fungos) ou o oídio (ectoparasitas). No entanto, há tratamentos alternativos aos produtos químicos utilizados na agricultura convencional, igualmente eficazes mas com impactos praticamente nulos sobre o ambiente e as pessoas.  Assim, sendo absolutamente necessário, utiliza-se, por exemplo, o enxofre para combater o oídio ou o sulfato de cobre contra o míldio. Sendo também possível a elaboração e aplicação de determinados preparados à base de plantas disponíveis nas hortas para os tratamentos, como é o caso da  cavalinha quanto ao míldio.

A luta contra as pragas

Também no combate às pragas o agricultor biológico tem ao seu dispor alternativas suficientemente eficazes e de efeitos nulos ou diminutos sobre o ambiente e as pessoas. Entre essas “armas” biológicas contam-se os chamados auxiliares, como os insectos úteis na horta (a joaninha, por exemplo, que se alimenta dos pulgões e das cochonilhas e de outros insectos prejudiciais; os besouros, por exemplo, que se alimentam de lesmas e de larvas das moscas da couve e da cenoura), ou os anfíbios comuns nas hortas saudáveis, como as rãs e as salamandras, comedoras de lesmas e caracóis, e as aves (por exemplo, os chapins e os piscos que comem pulgões e outras pragas, e o melro, que come lagartas) cujo afastamento das hortas é quase sempre negativo para o controlo natural de insectos prejudiciais e de outras pragas.  Mas as ajudas ao hortelão também podem vir do reino vegetal, plantando-se na horta ou nos seus limites ou redondezas determinadas espécies que afastam os insectos ou outros animais prejudiciais (como o hissopo, repelente da borboleta branca da couve, ou o loureiro, que afasta as toupeiras) e outras que atraem ou servem de abrigo a insectos úteis à horta – a calêndula, por exemplo, com as suas grandes flores atrai muitos insectos polinizadores, e o funcho, refúgio para sirfídeos (pequenas vespas) cujas larvas são devoradoras de pulgões e de aranhiços-vermelhos. Porém, sendo absolutamente necessário, também são admissíveis tratamentos eficazes e com pouco ou nenhum impacto negativo sobre o ambiente e as plantas – por exemplo, a remoção dos pulgões das folhas com uma solução de sabão azul e branco ou o combate aos ácaros com o enxofre e a utilização de preparados à base de plantas da horta, como a urtiga, contra os ácaros e os pulgões.